"Para criar ideias potenciais que tenham uma adesão veloz do público, é preciso diagnosticar a dor comum a muita gente." Glossário do Vale do Silício
Qual o cenário econômico atual?
Estamos ainda com uma agenda doméstica complicada, devido às questões econômicas e políticas.
O mercado tem revisado para baixo o PIB Produto Interno Bruto, e para cima a taxa de juros básica e a inflação. Há também tramitando no Congresso a questão dos precatórios, reforma tributária e o período da continuidade dos programas de auxílio do governo. Enfim, temos pela frente um momento ainda cheio de incertezas quanto à dinâmica fiscal que o Governo conduzirá para o ano de 2022 e, vale lembrar, um período também eleitoral.
INFLAÇÃO: pode ocorrer do mercado ser pego de surpresa e termos uma inflação ainda maior para 2022. Para este ano, O Boletim do Focus elevou pela 27ª semana consecutiva suas projeções para a inflação este ano, desta vez para 8,59%.
PIB: O cenário da atividade econômica brasileira interrompeu a sequência de dois meses de crescimento e apresentou queda no mês de agosto. O resultado anunciado foi pior que as expectativas do mercado, cuja mediana ficava em uma queda de 0,05% na comparação mensal. A projeção do Banco Central para o PIB é de um crescimento de 5,04%.
TAXA DE JUROS: Na política monetária estamos num momento de alta da taxa de juros básica da Economia (SELIC), com uma possível nova alta para dezembro. A estimativa é fechar o ano em 8,25% conforme também publicado no Boletim Focus.
Quais são os principais drivers das empresas voltados ao Setor Bancário?
Ao analisar os relatórios de desempenho, publicado nas áreas de RI dos cinco Banco citados, alguns dos principais drivers que são: Total de Ativos, Base de Clientes, Carteira de Crédito, Índice de Inadimplência e Receita de Prestação de Serviços.
Como os Bancões e Neobancos estão preparados para este cenário atual de altas de juros, inflação e da inadimplência?
Estamos falando de um dos setores mais representativos da Bolsa, ao lado do setor de commodities (que será tema do próximo blog).
O cenário de alta de juros pode trazer benefícios ao setor bancário, porém, o aspecto negativo é o conflito de uma queda da atividade econômica refletidas no PIB e no aumento da inflação. Há Bancos que, na sua estratégia, foram mais agressivos na concessão de crédito num cenário de taxa de juros baixa. Por outro lado, há Bancos que foram mais conservadores.
É chamado de Neobanco os bancos que nasceram mais ligados à tecnologia, com um público alvo também mais específico, o qual é um driver de vantagem competitiva. São Bancos com estruturas mais enxutas, ágeis e dinâmicas. Em contraponto, eles passarão pela primeira vez por um grande desafio, num cenário de adversidade neste ambiente econômico. Os que sobreviverem sairão muito fortalecidos.
Os Neobancos terão mais dificuldades de repassar os seus spreads (representa a diferença entre os juros que os Bancos pagam quando uma pessoa investe o seu dinheiro, dos juros que os Bancos cobram quando uma pessoa faz um empréstimo) para as taxas de operações de crédito, devido uma questão de funding. O que é isto? É o seguinte: para efeito de poder captar dinheiro no mercado para emprestar, os Neobancos precisam praticar taxas de juros maiores para captar investimentos (ex. pagando 110%, 150% e até 200% do CDI) para fazer frente às demandas de crédito. Por isso, estes Bancos têm mais dificuldade no repasse da taxa de juros nas operações de crédito junto ao seu público, pois o custo do dinheiro para eles é maior e, nisso, eles sacrificam o spread.
Quanto à inadimplência também uma outra dificuldade. Na taxa de juros baixa, os neobancos alavancaram muito a base de cartões de crédito e operações de empréstimo e nisso os Bancões tem um know how maior na arte de conceder crédito do que os neobancos. Há uma previsão neste setor que a inadimplência será mais sentida no segundo semestre de 2022.
Quais oportunidades que temos para investir no mercado de Ações neste setor?
Conforme as diversas fontes de analistas econômicos do mercado citadas ao final do blog, os Bancões estão com valuations baixos e se tornam atrativos para este momento. Porém, conforme os analistas recomendam é interessante mesclar investir em ações em Bancão, neobanco e também em small caps. Para isso seguem alguns comentários dos analistas, mas vale a dica que não se trata de recomendação de compra, mas sim de informação. Consulte os analistas da sua corretora para uma decisão mais apropriada.
Segue abaixo a situação atual de resultados e rentabilidade dos cinco papéis abaixo:
BANCO ABC (ABCB4):
Este Banco está classificado como uma small caps e o mercado tem recomendado a busca por este papel. É considerado pelos analistas econômicos um Banco de extrema qualidade. Seu core business sempre foi muito focado em empréstimos para grandes empresas, mas de um tempo para cá, também começou a atuar junto à pequenas e médias empresas. Conta com um total de 3 milhões de Clientes neste perfil e um Total de Ativos de R$ 44,1 bilhões.
Sua taxa de inadimplência está em torno de 1% índice este extremamente saudável junto ao mercado. Possui bons resultados nas suas demonstrações financeiras e expertise na concessão de crédito.
Sua carteira de crédito está em R$ 35,2 bi sendo totalmente concentrada em crédito pessoa jurídica (Corporate, Middle e C&IB). Seu Dividend Yield (representa o dividendo pago por ação dividido pelo preço da ação) está em 6%.
BANCO DO BRASIL (BBAS3):
O Banco foi mais cauteloso na concessão de crédito, tendo um crescimento de apenas 6% nos últimos seis meses e, provavelmente, será um Banco que não sentirá um impacto tão forte em seu resultado, pelo efeito da inadimplência.
É o quarto maior Banco do país em número de correntistas com 66,1 milhões de contas e um Total de Ativos de R$ 1,5 trilhão. A taxa atual de inadimplência está em 2,3%. Sua Carteira de Crédito está na ordem de R$ 766,5 bilhões sendo 31,4% no Crédito Pessoa Física, 26,9% ao Agronegócio, 26,2% Grandes Empresas e Governo e 10,6% para as Pequenas e Médias Empresas e 4,9% para outras operações.
Além disso, o Banco foi persistente no corte de custos.
Apesar de 2022 ser um ano eleitoral, o Banco do Brasil tem um desconto de 70% no seu preço, devido o mercado ter ficado desconfiado de que o Banco seria usado para fins políticos. Seu Dividend Yield está em 6,4%.
BANCO INTER (BIDI3):
Este banco é meio um outsider junto aos Neobancos, pois tem uma base de depósitos à vista muito boa e sem remuneração. Tem uma base de depósito à vista sólida, o que lhe permite certa vantagem junto aos demais do segmento.
O Banco conta atualmente com 14 milhões de correntistas e um Total de Ativos no valor de R$ 30 bilhões.
Os pontos fortes do Inter são: Créditos altamente colateralizados (garantias), com 33,5% da sua carteira de crédito concentrada em Financiamento Imobiliário, 23,9% em Cartões de Crédito, 23,3% em crédito Empresarial (o qual cresceu e 19,3% em Crédito Consignado. Há também uma base sólida de clientes no Varejo. Seu Dividend Yield está em 0,1%.
ITAÚ (ITUB3):
O Itaú conta com 82,4 milhões de Clientes e um Total de Ativos de R$ 1,7 trilhão. A sua Carteira de Crédito atual do Itaú está em R$ 909,1 bilhões. O Banco tem como projeções finalizar o ano com um crescimento entre 8,5% e 12,5% na Carteira de Crédito total, um crescimento na Receita da Prestação de Serviços entre 2,5% e 6,5%. Seu Dividend Yield está em 3,2%.
BRADESCO (BBDC3):
Ele foi um dos Bancos que, em sua estratégia, foram um pouco mais agressivos na concessão de crédito. O Banco conta com quase 100 milhões de Clientes e um Total de Ativos de R$ 1,4 trilhão. As estimativas de lucros para 2022 foram cortadas em quase 20%, o crescimento da carteira de ativos será menor (estimativas em torno de 5%), a receita de juros com crescimento projetado em torno de 7%.
Quanto a estimativa de lucro do Banco para 2022 será em torno de 2% a 3%. Agora, quanto às despesas com provisões de juros, para uma eventual alta da inadimplência em 2022 será maior. Seu Dividend Yield está em 5,8%.
Finalizamos por aqui. Você pode compreender um pouco dos desafios que serão encontrados pelos neobancos, porém, alguns estão preparados para enfrentar este período e sairão ainda mais fortalecidos. Já quanto aos Bancões também se percebe boas oportunidades para investir, pois contam com uma experiência de décadas em enfrentamento de crises, excelência na concessão de crédito e investimentos em tecnologia de forma sistemática.
Fontes: BACEN; Banco ABC RI; Banco do Brasil RI; Banco Inter RI; Banco Itaú RI; Bradesco RI; CNN Business; EQI; Itaú Views Podcast; Mais Retorno
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